quinta-feira, 2 de maio de 2013

As Cerejas - Lygia Fagundes Telles


As belas cerejas despencando-se no chão, em meio aos relâmpagos que apagara a luz... 
Júlia corria de um lado para o outro, procurando auxiliar a Madrinha que alvoroçada organizava a casa, cuidando de todos os detalhes, para receber a visita da Tia Olívia (sua prima). Dionízia, a cozinheira, desdobrava-se com as novas receitas para agradá-la. 
Com um galho de cerejas ornamentando o decote, a vaidosa tia Olívia, enfastiada e lânguida, abana-se com uma ventarola chinesa, incomodada com a temperatura do local. Júlia ficara encantada. Só conhecia cerejas nas folhinhas. 
Marcelo, outro membro da família. Elegante, porém crítico e esnobe, parente Alberto, marido da Madrinha, chegara antes dela para passar as férias. Ele e a tia Olívia destacavam-se como alguém superior, especial. Ambos tinham estado na Europa. Ela falava e andava devagar com uma voz mansa de um gato manhoso e preguiçoso. Os dois pareciam se estranhar ou havia algo de oculto no ar. 
Certo dia, cai um temporal estarrecedor, deixando a casa em trevas. Em meio de um relâmpago que rasgou a escuridão, Júlia visualiza dois corpos tombando enlaçados no divã. Surpresa e cambaleante recolhe-se assustada. Chorava como criança. Ficara doente. No dia seguinte, o Marcelo fora embora. Dois dias após, a tia Olívia parte também. Ao se despedir, como para se redimir com a ingênua menina, deixa-lhe carinhosamente o galho de cerejas de lembrança; pois He despertava curiosidade e encanto.


Confira o conto aqui

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